A
COBERTURA VEGETAL DA ILHA DO MEL
São
reconhecidas na Ilha do Mel as seguintes unidades vegetacionais conforme o
sistema de classificação da vegetação proposto por VELOSO et
al. (1991).
- Sistemas Edáficos de Primeira Ocupação ou Áreas de Formações
Pioneiras
Com
influência marinha: praias, dunas, "ticket" arbustivo pós-praia,
"scrub" lenhoso da planície costeira, florestas arenosas ou
secas, florestas paludosas ou brejosas e vegetação rupícola dos
costões.
Com
influência flúvio-marinha: marismas e manguezais; aqui são incluídas
áreas de transição destes sistemas com as zonas de influência
exclusivamente marinha.
Com
influência fluvial: brejos herbáceos e\ou arbóreos ao longo de pequenos
rios e banhados, incluindo os "caxetais".
- Floresta Ombrófila Densa Atlântica
Das
terras baixas ou da planície litorânea
Submontana
- Vegetação secundária com influência antrópica
Estágios inicial, intermediário e avançado; são incluídas aqui
as espécies cultivadas na Ilha, independentemente da finalidade do
cultivo.
As
áreas de Formações Pioneiras com Influência Marinha, com suas
diferentes fisionomias, e a Floresta Ombrófila Densa Atlântica, tanto
das encostas como da planície costeira,
são as unidades mais expressivas em termos de área ocupada na
Ilha.
Formações Pioneiras com Influência Marinha
Encontram-se
sob esta denominação as comunidades vegetais que recebem influência
direta do oceano, ocorrendo principalmente em substrato arenoso de deposição
marinha, ou então em pontais rochosos dos morros da Ilha. São incluídas
neste tipo as comunidades ocorrentes nas praias, dunas, e sobre boa parte
da planície costeira da Ilha, notadamente nos setores com cordões litorâneos
bem definidos. Na verdade, a vegetação mostra-se bastante heterogênea,
formando uma espécie de "mosaico" de diferentes fisionomias,
indicando em alguns casos o forte caráter sucessional da vegetação.
Estes tipos vegetacionais são comumente tratados na literatura como
"restinga" ou "vegetação de
restinga".
A
vegetação de praia e dunas esta melhor representada na praia do Farol,
onde ocorre a formação recente de um grande banco de areia, e também
nas praias de Fora, Grande, do Miguel, das Encantadas e na Ponta do Bicho.
As praias e dunas têm vegetação de fisionomia e composição típicas,
com espécies adaptadas a sobrevivência em um ambiente com várias
adversidades, como mobilidade do substrato, alto teor salino, rápida
drenagem, deficiência em matéria orgânica e aquecimento das camadas
superficiais do substrato pela insolação direta. Espécies freqüentes
nestas regiões são Blutaparon
portulacoides (Amaranthaceae), Ipomoea
pescaprae e Ipomoea stolonifera
(Convolvulaceae), Paspalum
vaginatum, Sporobolus virginicus, Stenotaphrum secundatum e Spartina
ciliata (Poaceae), Hydrocotile
bonariensis (Apiaceae) e Cyperus
obtusatus, C. polystachyos e C. ligulares (Cyperaceae).
Nas
dunas mais antigas, já densamente colonizadas pela vegetação, é comum
a ocorrência de arbustos baixos e ramificados, além de várias espécies
de bromeliáceas, algumas orquídeas e pteridófitas terrestres,
constituindo uma vegetação arbustiva baixa e densa. Dentre as espécies
arbustivas destacam-se Dalbergia
ecastophylla e Sophora tomentosa (Fabaceae), Rapanea
parvifolia (Myrsinaceae), Guapira
opposita (Nyctaginaceae), Psidium
cattleianum e Eugenia sulcata (Myrtaceae), entre outras. Dentre as bromeliáceas as espécies
mais freqüentes são Dyckia
encholirioides, Aechmea
nudicaulis, Aechmea organensis,
Ananas bracteatus e Bromelia antiacantha, e entre as orquidáceas destacam-se Cyrtopodium
polyphylum e Epidendrum fulgens.
As pteridófitas comuns nestas áreas são Blechnum
serrulatum (Blechnaceae) e Rumohra
adiantiforme (Dryopteridaceae). Nestes arbustos baixos próximos a
praia é visível a influência dos ventos predominantes no formato das
copas.
Esta
faixa de vegetação que ocorre nas praias e dunas frontais tem recebido várias
denominações na literatura, dentre as quais "vegetação
praieira" (FIGUEIREDO, 1954), "subformação psamófita, fácies
holo-psamófita" (HERTEL, 1959), "comunidade halófila
praieira" (RIZZINI, 1963), "formação pioneira das dunas"
(NOFFS & BATISTA-NOFFS, 1982; BARROS et
al., 1991), "vegetação da praia" (MAACK, 1981), entre
outros.
Passada
esta faixa de vegetação inicialmente herbácea e arbustiva, a vegetação
adquire fisionomia muito característica, com arbustos bastante
ramificados, de ramos tortuosos, formando agrupamentos bastante densos de
2 a 5m de altura, podendo haver o desenvolvimento de plantas epífitas e
herbáceas terrestres, assim como de muitas trepadeiras lenhosas (lianas).
A denominação dada a este tipo vegetacional é muito variada, sendo
usado comumente o termo "scrub" ou escrube para designá-lo,
indicando o caráter arbustivo da vegetação, entremeado por espécies
herbáceas, especialmente bromeliáceas. Esta é a fisionomia mais típica
das porções mais próximas ao mar da planície costeira, não só na
Ilha como também em boa parte do litoral paranaense, sendo comumente
chamada de "restinga" propriamente dita (STELLFELD, 1949;
FIGUEIREDO, 1954), "floresta esclerófila litorânea" (RIZZINI,
1963), "fácies hetero-psamófita da sub-formação
psamófita ou capeva" (HERTEL, 1959), "nhundu ou jundu"
(LOEFGREN, 1896; ROMARIZ, 1972; MAACK, 1981).
Dentre
as espécies arbustivas ocorrentes nesta fisionomia de vegetação
destacam-se as pertencentes às famílias Myrtaceae, Myrsinaceae,
Aquifoliaceae, Clusiaceae, Anacardiaceae, Lauraceae, Erythroxylaceae e
Nyctaginaceae.
Dentre
as espécies herbáceas terrestres ocorrentes à sombra dos arbustos ou
nos locais mais abertos destacam-se as mesmas espécies de pteridófitas
ocorrentes nas dunas.
Normalmente,
após esta faixa de vegetação arbustiva fechada ocorrem áreas de
fisionomia também arbustiva baixa, intercaladas por espaços abertos,
cujas espécies pertencem as famílias já citadas anteriormente.
A
tendência deste tipo vegetacional, a medida em que afasta-se do mar é
tornar-se cada vez mais desenvolvido, tanto estrutural como
floristicamente, até chegar o ponto em que adquire aspecto de uma
floresta baixa, com três estratos mais ou menos definidos, um arbóreo,
de até 10m de altura, um outro arbustivo e um herbáceo, comumente
designado na literatura como "floresta arenosa",
"seca" ou "da restinga", que freqüentemente aparece
intercalada com outro tipo florestal, mais desenvolvido, cujas árvores do
estrato superior são maiores (até 20m de altura), ocorrendo ainda um segundo estrato arbóreo com altura predominante entre
6-10m, um estrato arbustivo e um herbáceo, podendo este último ser mais
ou menos desenvolvido, dependendo das condições locais. Este tipo
vegetacional recebe denominações diversas, sendo as mais comuns
"floresta paludosa" ou "úmida" (HERTEL, 1959; RIZZINI,
1963, ARAUJO & HENRIQUES, 1984, WAECHTER, 1985; HENRIQUES et
al., 1986).
Estas
duas classes de formações aparecem intercaladas sobre a planície
costeira da Ilha do Mel, indicando a sucessão de deposição dos cordões
litorâneos que lhes deu origem. A floresta arenosa ocorre na parte alta
dos cordões enquanto a floresta arenosa ocupa as depressões entre os
cordões.
As
espécies mais representativas da floresta arenosa são Tapirira
guianensis, Ocotea pulchella, Guapira opposita, Ternstroemia brasiliensis,
Myrcia multiflora, Clusia criuva, Ilex theezans e I. pseudobuxus,
Erythroxylum amplifolium e Psidium cattleianum. Na floresta paludosa
destacam-se Calophyllum
brasiliense, Tabebuia
cassinoides,Pouteria beaurepairei, e várias espécies de Myrtaceae,
tais como, Myrcia racemosa, Myrcia
grandiflora, Myrcia insularis, Marlierea
tomentosa e M.reitzii.
Um
fato notável é a ocorrência de um estrato arbustivo e de outro herbáceo
bem desenvolvido, além da presença de epífitas e lianas em ambos os
tipos vegetacionais. Espécies arbóreas baixas e\ou arbustivas como Rudgea
villiflora, Faramea marginata,
Alibertia concolor e Geonoma
schottiana são freqüentes no subosque destas florestas.
Dentre
as espécies herbáceas destacam-se as pteridófitas, especialmente Nephrolepis
biserrata, Nephrolepis rivularis,
Pecluma paradisiae, Blechnum
serrulatum e Rumohra
adiantiforme, além de rubiáceas, ciperáceas, poáceas e bromeliáceas.
Dentre
as epífitas, destacam-se as famílias Bromeliaceae, Orchidaceae, Araceae,
Cactaceae e Gesneriaceae
entre as fanerógamas, e Polypodiaceae dentre as pteridófitas.
Ainda
dentro das áreas de formações pioneiras com influência marinha deve
ser mencionada a vegetação que ocorre nos costões rochosos dos morros
da parte leste-sul da Ilha. Esta recobre de forma muito característica as
frestas e platôs de rochas, normalmente onde as condições propiciam a
ocorrência de maior quantidade de matéria orgânica e umidade. As espécies
mais freqüentes e que imprimem um aspecto fisionômico mais característico
a estes locais são os caraguatás (Dyckia encholirioides e Aechmea
organensis), a orquídea Epidendrum
fulgens, a pteridófita Rumohra
adiantiforme, além de várias espécies de poáceas e ciperáceas.
Algumas espécies arbustivas podem ser freqüentes nestes locais,
notadamente a capororoquinha (Rapanea
parvifolia), a maria-mole (Guapira
opposita), o feijão-da-praia (Sophora
tomentosa), a orelha-de-onça (Tibouchina
clavata) e o canudo-de-pito (Senna
bicapsularis). A vegetação que ocorre nos costões rochosos é
denominada na literatura de "vegetação pioneira litófita" (WAECHTER,
1985), "sub-formações litófita e casmófita" (HERTEL, 1959),
"comunidade litófita" (FIGUEIREDO, 1954; RIZZINI, 1963), ou
simplesmente "litoral rochoso" (RAWITSCHER, 1944; STELLFELD,
1949; JOLY, 1970; FERRI, 1980).
Formações Pioneiras com Influência Fluvial
Esta
denominação inclui as comunidades vegetais ocorrentes em locais que
refletem processos de "cheias" de rios em épocas chuvosas, como
a maioria dos rios da planície costeira da Ilha, ou então que vivem em
depressões alagáveis durante ao menos um período do ano, com
periodicidade e duração variáveis.
Na
Ilha do Mel, este tipo vegetacional está representado pelos brejos herbáceos
situados nas depressões entre os cordões litorâneos, onde predominam
espécies de ciperáceas e poáceas, muitas das quais indeterminadas até
o momento, além da taboa (Typha
dominguensis), espécie de ampla distribuição no Brasil, ocorrendo
sempre em áreas brejosas. O lírio-do-brejo (Hedychium
coronarium), espécie originária da África, ocorre com frequência
nestas áreas, especialmente naquelas mais próximas a locais perturbados.
Também estão representados brejos com vegetação arbórea, com indivíduos
de até 10 metros de altura, onde Rapanea
intermedia é a espécie dominante e os "caxetais",
ambientes higrófilos com predomínio da caxeta (Tabebuia
cassinoides), caracterizados pela ocorrência expressiva desta espécie,
associada a várias outras, muitas das quais ocorrentes também em outras
comunidades vegetais da Ilha. A literatura trata os brejos herbáceos sob
distintas denominações, como "prado úmido" (FIGUEIREDO,
1954), "brejo litorâneo" (MAACK, 1981), "comunidade hidrófila
da restinga"(RIZZINI, 1963) e "brejo herbáceo"(ARAUJO
& HENRIQUES, 1984).
Formações Pioneiras com Influência Flúvio-Marinha
Nesta
categoria incluem-se os manguezais e as áreas de marismas, também
chamados de "brejos salinos", que na Ilha do Mel ocupam área
pouco representativa, especialmente quando comparado a áreas localizadas
nas partes mais internas da Baía de Paranaguá. As maiores extensões de
manguezais e marismas são encontradas na parte norte-oeste, especialmente
nas desembocaduras dos pequenos rios da planície litorânea, e também
entre a Nova Brasília e o Morro do Miguel, no Saco do Limoeiro.
Como
a maior parte dos manguezais do sul e sudeste do Brasil, ocorrem na Ilha
apenas três espécies arbóreas, que raramente ultrapassam 10m de altura
total, e apresentam padrão de distribuição variável, dependendo das
condições locais; são elas o mangue-vermelho (Rhizophora
mangle), o mangue-branco (Laguncularia
racemosa) e a siriúba (Avicennia
schaueriana). As áreas de marismas mais desenvolvidas podem ser
vistas próximas à Nova Brasília, no "mar de dentro", sendo
caracterizados pela cobertura quase contínua de um poácea denominada
popularmente de praturá (Spartina
alterniflora), juntamente com indivíduos jovens das espécies arbóreas
características. Normalmente esta faixa antecede as áreas com vegetação
arbórea, sendo muitas vezes interpretadas como um estágio inicial na
formação dos manguezais (FIGUEIREDO, 1954).
Nas
zonas de transição entre os manguezais e outros tipos vegetacionais,
principalmente pertencentes à categoria das formações pioneiras com
influência marinha, ocorrem espécies típicas destes locais,
principalmente a uvira (Hibiscus tiliaceus), a azeitona-da-praia (Ximenia americana), a corticeira-do-brejo (Erythrina speciosa), o marmeleiro-da-praia (Dalbergia ecastophylla), e as pteridófitas Acrostichum danaefolium e Blechnum
brasiliense.
Floresta Ombrófila Densa Atlântica
Seguindo
o sistema de classificação da vegetação proposto por VELOSO et al. (1991), a região da Floresta Ombrófila Densa é subdividida
conforme a altitude do seu respectivo local de ocorrência. Na Ilha do Mel
estão representadas apenas a Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas,
que ocorre nas porções mais internas na planície costeira, e a Floresta
Ombrófila Densa Submontana, ocorrente nos morros do Meio, do Miguel e
Bento Alves, principalmente.
A
Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas ocorre de forma mais
expressiva na planície da parte norte da Ilha, onde o alinhamento dos
cordões litorâneos não é tão visível, e representa o máximo de
desenvolvimento da vegetação da planície costeira da Ilha do Mel,
correspondendo aos locais mais antigos desta, em termos de formação.
As
árvores mais altas atingem entre 20-25m de altura, constituindo um dossel
mais ou menos contínuo, onde destacam-se a
caxeta (Tabebuia cassinoides),
a cupiúva (Tapirira guianensis),
o guanandi (Calophyllum brasiliense),
a baga-de-macaco (Pouteria
beaurepairei), o ingá-mirim
(Inga luschnatiana), o tapiá (Alchornea
triplinervia), o racha-ligeiro (Pera
glabrata), a sapopema (Sloanea
guianensis), o miguel-pintado (Matayba
guianensis), a canela-garuva (Nectandra
mollis subsp oppositifolia),
a canela-pimenta (Ocotea pulchella),
a canela-amarela (Ocotea aciphylla),
o mandiocão (Dydimopanax
angustissimum), a cajarana (Cabralea
canjerana), o ipê-da-várzea (Tabebuia
umbellata), além de várias espécies de mirtáceas (Myrcia
glabra, Myrcia rostrata, Calyptranthes
lucida, Gomidesia schaueriana,
entre outras). No estrato arbóreo inferior, com alturas predominantes
entre 6-10m predominam rubiáceas (Faramea
marginata e Posoqueria latifolia),
mirtáceas (Marlierea eugeniopsoides
e Marlierea tomentosa) e arecáceas
(Euterpe edulis e Geonoma schottiana). No estrato arbustivo-herbáceo são comuns espécies
de rubiáceas, principalmente Psychotria
barbiflora e Psychotria
leiocarpa, mas o elemento mais característico é Nidularium
innocentii, uma bromeliácea terrestre que forma extensos
agrupamentos, chegando a ocupar por vezes grandes áreas. Além destas são
comuns também várias espécies de pteridófitas, principalmente das famílias
Dryopteridaceae e Thelypteridaceae. As epífitas e trepadeiras lenhosas
também são bastante comuns neste tipo vegetacional, pertencentes
principalmente às famílias Bromeliaceae (Vriesea,
Aechmea, Catopsis e Tillandsia),
Orchidaceae (Anacheilium, Encyclia, Stelis, Trigonidium
e Epidendrum), e Polypodiaceae (Polypodium,
Microgramma, Campyloneuron),
e Dilleniaceae (Davilla rugosa e
Doliocarpus schottianus),
Smilacaceae (Smilax elastica e
Smilax longifolia) e
Asteraceae (Mikania), respectivamente.
Nos
morros da parte leste-sul da Ilha, especialmente do Meio, do Miguel e
Bento Alves, formados por rochas antigas do complexo cristalino
brasileiro, ocorrem, em maior ou menor extensão, a Floresta Ombrófila
Densa Submontana e áreas com vegetação secundária em diferentes estágios
de desenvolvimento. O fato das áreas de morro possuírem solos com
características fisico-químicas mais adequados a práticas agrícolas
levou a uma maior procura no passado por estas áreas, para o plantio de
pequenas roças (mandioca, cana-de-açúcar, banana, feijão, cítricos) e
conseqüentemente proporcionou uma maior ocorrência de locais dominados
por vegetação secundária. Outra perturbação perceptível nestas áreas
é a extração seletiva de madeira e palmito (Euterpe
edulis). Muitas vezes torna-se difícil a distinção entre as
florestas secundárias mais desenvolvidas e as florestas primárias, mais
ou menos perturbadas por extração seletiva de espécies.
As
árvores mais altas atingem entre 20-25m de altura, com epifitismo
acentuado, especialmente nos indivíduos mais desenvolvidos, e abundância
de trepadeiras lenhosas (lianas). Dentre as árvores destacam-se a
estopeira (Cariniana estrellensis),
o guatambu (Aspidosperma olivaceum),
a licurana (Hyeronima alchorneoides),
a maçaranduba (Manilkara
subsericea), a bocuva (Virola
oleifera), o cedro (Cedrela
cf odorata), o ipê-da-serra (Tabebuia
cf velosoi), o embirussu (Pseudobombax
grandiflorum), as figueiras (Ficus
glabra, Ficus insipida), e várias espécies de mirtáceas.
O
estrato arbóreo inferior, com altura predominante entre 6-10m, é
constituído predominantemente por mirtáceas e rubiáceas; dentre as
primeiras as mais freqüentes são Psychotria
nuda e Rudgea jasminoides. Além destas são comuns o bacopari (Rheedia
gardneriana), o pau-de-cutia (Esenbeckia
grandiflora), o chincho (Sorocea
bonplandii), e o timbó (Dahlstedtia
pentaphylla). Palmeiras dos gêneros Bactris
e Geonoma ocorrem em alguns
locais, principalmente mais úmidos e sombreados.
Dentre
as pteridófitas arborescentes (Cyatheaceae) destacam-se Trichipteris
corocovadensis, Trichipteris
atrovirens e Trichipteris
leucolepis, esta última somente encontrada até o momento em locais
úmidos a beira dos pequenos rios existentes nos morros.
No
estrato herbáceo, descontínuo, são comuns várias espécies de pteridófitas,
acantáceas, rubiáceas, aráceas e piperáceas, além de poáceas e ciperáceas
características de locais úmidos e sombreados. Freqüentemente são
encontrados matacões rochosos dentro da floresta, ocupados por espécies
tipicamente rupícolas, ou então por outras ocorrentes no estrato herbáceo,
com destaque principal para várias espécies de pteridófitas, além de
bromeliáceas e aráceas.
As
epífitas estão representadas principalmente por bromeliáceas, orquidáceas,
aráceas e cactáceas, enquanto as trepadeiras mais freqüentes pertencem
às famílias Dioscoreaceae, Smilacaceae, Fabaceae, Apocynaceae,
Dilleniaceae e Asteraceae.
Vegetação Secundária com Influência Antrópica
As
áreas de vegetação secundária são aquelas onde houve alguma intervenção
humana para utilização da terra, independente da sua finalidade; na Ilha
esta utilização se deu principalmente para práticas agrícolas. Estas
áreas, quando abandonadas reagem diferencialmente, dependendo do tempo de
abandono e a categoria de uso, refletindo, no entanto, os parâmetros ecológicos
do ambiente. A seqüência de eventos que ocorre em uma área que teve sua
vegetação natural removida e foi posteriormente abandonada recebe o nome
de "sucessão vegetal", e neste processo podem ser reconhecidas
diferentes etapas, de fisionomia e tempo de duração relativamente variáveis,
dependendo das condições locais.
Normalmente
são reconhecidos os estágios iniciais, intermediários e avançados,
denominados respectivamente de "capoeirinha",
"capoeira", e "capoeirão".
A
"capoeirinha" caracteriza-se por uma cobertura herbácea
bastante densa, onde predominam espécies de poáceas (Imperata
brasiliensis, Erianthus trinii,
Melinis minutiflora e Cortaderia
selloana) e asteráceas (Vernonia
beyrichii, Vernonia flexuosa, Vernonia
scorpioides, Solidago chilensis
e Eupatorium inulaefolium, entre
outras), principalmente, podendo ainda ocorrer algumas espécies de pteridófitas,
notadamente Pteridium aquilinum
e Blechnum serrulatum. A maior
expressão deste tipo de vegetação secundária pode ser observada nos
morros do Farol, do Joaquim, do Caraguatá, das Encantadas e na ponta da
Nhá Pina, chamada por
FIGUEIREDO (1954) de "campina dos morros".
Na
"capoeira", além das espécies citadas anteriormente, ocorrem
espécies arbustivas denominadas popularmente de "vassouras",
pertencentes à família Asteraceae (Baccharis),
sendo também reconhecida por este nome a sapindácea Dodonaea
viscosa. Devido à predominância destas espécies em determinadas
condições, freqüentemente esta fase é denominada de
"vassoural". Nesta fase podem ser encontrados vários indivíduos
jovens de espécies tipicamente arbóreas dos estágios mais avançados da
sucessão vegetal.
O
capoeirão representa um estágio bastante avançado da sucessão vegetal,
onde há um predomínio de espécies arbóreas pioneiras, havendo uma
considerável diminuição da cobertura proporcionada pelas espécies herbáceas.
São freqüentes neste estágio várias espécies de Melastomataceae,
vulgarmente chamadas de jacatirão e\ou quaresmeira, dentre as quais
destacam-se Tibouchina sellowiana,
Tibouchina pulchra, Miconia
cinnamomifolia, Miconia cabucu
e Miconia dodecandra. Além destas espécies, também são freqüentes
a jacataúva (Citharexylum
myrianthum) e as embaúbas (Cecropia
glaziovii e Cecropia
pachystachya).
A
tendência da vegetação secundária ao longo do tempo é reconstituir a
vegetação original existente antes da perturbação, sendo os estágios
mais avançados, normalmente denominados de "florestas secundárias",
dificilmente distinguíveis do ponto de vista fisionômico da vegetação
primária.
A VEGETAÇÃO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA DA ILHA DO MEL
(EEIM)
A
EEIM inclui áreas com diferentes tipos de cobertura vegetal, evidenciados
tanto pela documentação aerofotográfica, como pelas diferentes
fitofisionomias observadas em campo. Variam desde tipos predominantemente
herbáceos, passando por agrupamentos arbustivos, densos ou abertos, até
florestas bem desenvolvidas, com dois estratos arbóreos, um arbustivo e
um herbáceo. Tais tipos vegetacionais são bastante representativos de
boa parte do litoral paranaense, notadamente das porções geologicamente
mais recentes da planície litoránea, não só das partes insulares, como
também das continentais.
As
descrições ora apresentadas baseiam-se em mais de 10 anos de trabalhos
abordando tanto aspectos florísticos, como fitossociológicos da vegetação
da Ilha do Mel, cujos resultados parciais podem ser encontrados em BIDÁ
et al. (1986), BRITEZ et al. (1989), SILVA et al. (1989), SILVA (1990), SILVA et al. (1994) e SILVA
et al. (dados não publicados).
A
vegetação das praias e dunas frontais está bem representada na área da
EEIM nas imediações da Ponta do Bicho, e também em alguns trechos das
Praias do Cedro e do Limoeiro, no chamado Mar de Dentro. Normalmente este
tipo está associado a depósitos praiais relativamente recentes, não
ocorrendo em locais que vêm sofrendo erosão marinha. Processos erosivos
e deposicionais no litoral paranaense são comuns, e relacionam-se com a
estabilidade da linha de costa, conforme descrito por PARANHOS F°
et al. (1994), e a vegetação desempenha um papel importante no processo,
auxiliando na estabilização do substrato.
As
espécies ocorrentes nestas regiões apresentam características
morfo-fisiológicas peculiares, que evidenciam grande capacidade
adaptativa às condições extremas do ambiente, tais como mobilidade do
substrato, alta salinidade, abrasão provocada pelo transporte eólico dos
sedimentos, deficiência de matéria orgânica, e altas temperaturas e
incidência solar, entre outros. Destacam-se espécies dotadas de longos
caules rastejantes, que desprendem-se do substrato por ação das marés
mais altas episódicas, tornando a fixarem-se em situações de
normalidade, atuando ainda como órgãos de propagação vegetativa. A
suculência das folhas em algumas espécies também é evidente, e pode
relacionar-se com o armazenamento de água e/ou sais. O hábito cespitoso
de algumas poáceas e ciperáceas também é comum, favorecendo muito a
estabilização do substrato. Muitas espécies mostram comportamento
fotossintético peculiar (C4 e CAM), além de apresentarem um sistema
eficiente de controle transpiratório e estruturas especializadas em
eliminar o excesso de sal absorvido do substrato.
A
predominância nas paias e dunas recentes é de espécies herbáceas,
estoloníferas, rizomatosas e/ou cespitosas, que formam uma cobertura
descontínua, que raramente ultrapassa 50 cm de altura, dentre as quais
destacam-se Spartina ciliata,
Panicum sp, Sporobolus virginicus e Stenotaphrum secundatum (POACEAE), Ipomoea pescaprae e I.
littoralis (CONVOLVULACEAE), Hydrocotile
bonariensis e Apium prostatum
(APIACEAE), Blutaparon portulacoides
(AMARANTHACEAE), Cyperus obtusatus,
C. polystachyos e C. ligularis
(CYPERACEAE), Vigna luteola (FABACEAE),
Dickia encholirioides (BROMELIACEAE),
Epidendrum fulgens e Cyrtopodium
polyphyllum (ORCHIDACEAE), além de várias espécies de Asteraceae,
de menor importância sociológica e fisionômica.
Nos
locais mais afastados da atual linha de praia, com vegetação mais
desenvolvida e já estabilizada, destacam-se espécies arbustivas baixas,
com maior cobertura, e alturas que variam de 50cm a 2m, onde o
marmeleiro-da-praia (Dalbergia ecastophylla - FABACEAE) é o elemento mais característico.
é relativamente comum encontrar-se sob os indivíduos desta espécie espécies
herbáceas das zonas de praia, já citadas, além de indivíduos jovens de
espécies lenhosas, tais como Calophyllum
brasiliense (CLUSIACEAE), Annona
glabra (ANNONACEAE), Laguncularia
racemosa (COMBRETACEAE), Rhizophora
mangle (RHIZOPHORACEAE) e Hibiscus
tiliaceus (MALVACEAE). Outras espécies de hábito arbustivo que
frequentemente ocorrem nestes locais são Tibouchina
clavata (MELASTOMATACEAE), Cordia
verbenacea (BORAGINACEAE), Eupatorium
casaretoi (ASTERACEAE) e Sophora
tomentosa (FABACEAE), além de outras características das fisionomias
arbustivo-arbóreas mais desenvolvidas da planície costeira, descritas
posteriormente.
Após
esta faixa de largura variável, que inclui a parte superior da praia
(zona supralitoral) e as pequenas dunas estabilizadas, ocorre um tipo
vegetacional arbustivo fechado, com altura média de 3m, variando de 2 a
5m, onde a densidade dos indivíduos e a área basal são bastante altas (ca.
4.900 indiv./ha e 35m2/ha, respectivamente), mas a diversidade é baixa
(H'= 2.83). Como espécies mais características desta zona podem ser
citados Guapira opposita (NYCTAGINACEAE),
Tapirira guianensis e Schinus
terebinthifolius (ANACARDIACEAE), Ocotea
pulchella (LAURACEAE), Ternstroemia
brasiliensis (THEACEAE), Pera
glabrata (EUPHORBIACEAE), Maytenus
robusta (CELASTRACEAE), Rapanea
venosa e R. parvifolia (MYRSINACEAE),
Ilex theezans (AQUIFOLIACEAE), Eugenia
umbelliflora e Psidium
cattleianum (MYRTACEAE).
Sob
as copas densas e fechadas dos indivíduos destas espécies desenvolve-se
um estrato herbáceo descontínuo, caracterizado por agrupamentos
localizados de algumas espécies, tais como Aechmea
ornata, A. pectinata, A. nudicaulis, Ananas bracteatus e Bromelia
antiacantha (BROMELIACEAE), além de outras com coberturas expressivas
como as pteridófitas Rumohra
adiantiforme (DRYOPTERIDACEAE), Pecluma
paradisiae (POLYPODIACEAE) e Blechnum
serrulatum (BLECHNACEAE), e espécies de Poáceas, Rubiáceas, Aráceas
e Piperáceas, com menores valores sociológicos.
O
epifitismo nestas comunidades é bastante acentuado, onde cerca de 90% dos
indivíduos com circunferência a altura do peito maior ou igual a 30cm
apresentam epífitas, com destaque para Microgramma
vaccinifolia (POLYPODIACEAE), Codonanthe
gracilis (GESNERIACEAE), A.
nudicaulis, Vriesea rodigasiana e V.procera
(BROMELIACEAE) e Epidendrum ramosum,
E. latilabre e Vanilla chamissonis (ORCHIDACEAE). As lianas (trepadeiras lenhosas)
também são frequentes, destacando-se espécies das famílias Smilacaceae,
Asteraceae, Dilleniaceae e Sapindaceae.
Outra
fitofisionomia muito característica da EEIM é constituída por arbustos
e arvoretas com alturas de até 5m, formando agrupamentos muitas vezes
semelhantes a "moitas", de formato e tamanho variáveis,
intercalados por áreas abertas, muitas vezes com uma cobertura
praticamente contínua de musgos e líquens. A densidade dos indivíduos
lenhosos é de aproximadamente 3.200 indiv./ha, enquanto a área basal é
de 15m2/ha, valores menores aos observados para o tipo
vegetacional anteriormente descrito, assim como o índice de diversidade
(H'), que nestas áreas fica em torno de 2,31. Uma característica fisionômica
que chama muito a atenção nestas comunidades é grande número de indivíduos
ramificados desde a base, formando copas muito amplas e baixas. é
importante ressaltar que muitas vezes a definição das "moitas"
não é clara, como se com o desenvolvimento destas formassem uma
comunidade com um estrato superior +/- contínuo, com altura normalmente
entre 3-5m. Dentre os elementos arbustivo-arbóreos características desta
fisionomia destacam-se G. opposita,
P.cattleianum, T. brasiliensis, O. pulchella, , T. guianensis e I. theezans, já citados anteriormente, além de Erythroxylum amplifolium (ERYTHROXYLACEAE), Abarema lusoria (MIMOSACEAE), Myrcia
multiflora (MYRTACEAE) e Andira
fraxinifolia (FABACEAE). Uma espécie que destaca-se nestas
comunidades, ocorrendo de forma bastante expressiva principalmente nas
orlas das moitas e/ou nos locais mais abertos é a camarinha (Gaylussacia
brasiliensis - ERICACEAE), pequeno arbusto de até 1.5m de altura, que
chega muitas vezes a formar agrupamentos quase homogêneos.
Dentre
as espécies herbáceas mais frequentes que desenvolvem-se sob a vegetação
arbustiva e também nas áreas abertas, destacam-se B.
serrulatum e R. adiantiforme,
além de Fabáceas e Poáceas, entre outras. Uma espécie muito comum
nestes locais, de hábito trepador mas que em locais abertos
frequentemente desenvolve-se prostrada sobre o solo é
Smilax campestris (SMILACACEAE), também ocorrente em outras
fitofisionomias mais desenvolvidas estruturalmente. O epifitismo nestas
comunidades é pouco expressivo, representado basicamente pelas mesmas espécies
já relacionadas anteriormente.
Nas
áreas da EEIM onde a sucessão de cordões litoraneos que originaram
grande parte da planície costeira são bem evidentes, ocorre uma alternância
de dois tipos florestais muito caraterísticos, denominados comumente como
"floresta arenosa" e "floresta paludosa", que ocupam
as partes altas e baixas dos cordões, respectivamente.
Uma
área da Ilha que apresenta estes tipos vegetacionais foi estudada por
SILVA et al.(1993), onde são apresentadas as espécies ocorrentes e seus
principais parâmetros fitossociológicos em cada uma das situações
descritas.
A
espécie com maior importância no levantamento é o guanandi (Calophyllum
brasiliense), mostrando os maiores valores de frequência e dominância,
especialmente na floresta paludosa. Além desta espécie, destacam-se
ainda nesta vegetação a caxeta (Tabebuia
cassinoides), a baga-de-macaco (Pouteria
beaurepairei) além de várias espécies de Myrtaceae, denominadas
popularmente de guamirins e/ou cambuís, especialmente Myrcia
acuminatissima, Myrcia
grandiflora, Myrcia insularis
e Marlierea tomentosa. Algumas
áreas de floresta paludosa da Ilha, especialmente as que acompanham
pequenos cursos de água, assemelham-se florística e estruturalmente aos
"caxetais" mais desenvolvidos estudados por ZILLER (1992) no
litoral paranaense. À medida em que se afasta da área alagável, há um
aumento dos valores de importância de espécies como
a canela-pimenta (Ocotea
pulchella), o mangue-formiga (Clusia
criuva), a caúna-da-praia (Ilex
pseudobuxus), a manjuruvoca (Ternstroemia
brasiliensis), a fruta-de-pomba (Erythroxylum
amplifolium), o araçá (Psidium
cattleianum), o cambuí (Myrcia
multiflora) e a maria-mole (Guapira
opposita). Estas espécies ocorrem freqüentemente em outros locais da
Ilha do Mel, como integrantes de outras comunidades vegetais, podendo
inclusive destacarem-se também nestas situações.
Na
parte transicional entre as regiões inundável e não inundável,
destacam-se espécies como o murici-da-praia (Byrsonima
ligustrifolia) e o xaxim-de-espinho (Trichipteris
atrovirens), este último de grande importância estrutural e fisionômica.
A
região livre de inundações (floresta arenosa) pode ser caracterizada
por apresentar indivíduos menores, mais agrupados, sendo muitos destes
ramificados desde a base.
Um
fato notável é a ocorrência de um estrato arbustivo e de outro herbáceo
bem desenvolvido, além da presença de epífitas e lianas em ambos os
tipos vegetacionais. Espécies arbóreas baixas e\ou arbustivas como Rudgea
villiflora, Faramea marginata,
Alibertia concolor e Geonoma
schottiana são freqüentes no subosque destas florestas.
Dentre
as espécies herbáceas destacam-se as pteridófitas, especialmente Nephrolepis
biserrata, Nephrolepis rivularis,
Pecluma paradisiae, Blechnum
serrulatum e Rumohra
adiantiforme, além de rubiáceas, ciperáceas, poáceas e bromeliáceas.
Dentre
as epífitas, destacam-se as famílias Bromeliaceae, Orchidaceae, Araceae,
Cactaceae e Gesneriaceae
entre as fanerógamas, e Polypodiaceae dentre as pteridófitas.
Estes
dois tipos florestais característicos de boa parte da planície costeira
da Ilha, parecem ser determinados basicamente por condições diferenciais
de drenagem do terreno. Muito embora sejam bastante típicos, têm alguns
pontos em comum, como a abundância e semelhança florística das epífitas,
frequência e densidade de espécies de Myrtaceae, e ocorrência simultânea
de algumas espécies, conforme mencionado por WAECHTER (1985; 1990) para o
estado do Rio Grande do Sul.
A
distinção entre estes tipos vegetacionais, especialmente as florestas
paludosas, e a Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas não é clara,
havendo uma transição gradual tanto florística como estrutural.
.
A maior ou menor diversidade dos "caxetais" está principalmente
relacionada com o estágio sucessional nos quais encontram-se; nos estágios
iniciais, a caxeta tem pequeno porte e aparece associada a espécies
predominantemente herbáceas e arbustivas, enquanto nos estágios mais
desenvolvidos associa-se a espécies arbóreas, especialmente o guanandi (Calophyllum
brasiliense), sendo muitas dominadas por estas. Na Ilha, caxetais em
estágios iniciais de desenvolvimento podem ser encontrados na planície
da Praia Grande e nas proximidades da Ponta Oeste, enquanto os mais evoluídos
são facilmente encontrados na planície da parte norte, especialmente ao
longo dos pequenos rios que cortam a região, como os rios do Cassual e do
Hospital.
Os
caxetais do litoral paranaense têm despertado muito a atenção de vários
pesquisadores, pois a madeira desta espécie possui propriedades
interessantes para determinados tipos de uso, e representa um importante
recurso natural a ser manejado e utilizado de forma sustentada pela população
local. Um estudo florístico e fitossociológico de algumas áreas de
caxetais no nosso litoral foi realizado por ZILLER (1992).
A
"floresta arenosa" tem altura média entre 7-9m, com densidade
de indivíduos arbustivo-arbóreos entre 2.500-2.800 indiv./ha, área
basal de aproximadamente 24 m2/ha e índice de diversidade (H') em torno
de 2.52. Ocorre preferencialmente nas partes altas dos cordões litoráneos,
com solos de drenagem rápida e lençol freático mais profundo. Como espécies
dominantes destacam-se O. pulchella,
T. brasiliensis, E. amplifolium, P. cattleianum, M. multiflora, G.
opposita, já citadas anteriormente, além de Clusia
parviflora (CLUSIACEAE) e Ilex
pseudobuxus (AQUIFOLIACEAE).
A
"floresta paludosa" tem ocorrência preferencial nas depressões
entre os cordões litoraneos, onde frequentemente aflora o lençol freático,
ou então correm pequenos rios de água escura ("gamboas"),
sempre relacionadas a solos fortemente influenciados por condições
hidromórficas. Tem estrato arbóreo dominante com altura entre 10-15m,
densidade de aproximadamente 1500-1700 indiv./ha, área basal superior a
30m2/ha e diversidade (H') de 3.24. As espécies arbóreas
dominantes são principalmente Calophyllum brasiliense (CLUSIACEAE), T. guianensis, Pouteria beaurepairei (SAPOTACEAE), Rapanea
intermedia (MYRSINACEAE), Tabebuia
cassinoides (BIGNONIACEAE), enquanto o estrato arbóreo inferior e o
subosque é constituído basicamente por mirtáceas, dentre as quais
destacam-se Myrcia grandiflora, M.
racemosa, M.insularis, Marlierea tomentosa e M.
reitzii. No subosque ainda destacam-se espécies de Rubiaceae e
Arecaeae, muitas das quais já citadas para a "floresta
arenosa".
No
estrato herbáceo, frequentemente descontínuo, destaca-se Becquerelia
cymosa (CYPERACEAE), além de outras espécies de menor expressão
sociológica pertencentes às famílias Rubiaceae, Solanaceae e
Bromeliaceae, com destaque nesta última para Nidularium
innocentii, que em alguns locais forma agrupamentos relativamente
extensos.
A
presença de lianas e epífitas
também é marcante nestas florestas, destacando-se espécies das famílias
já citadas anteriormente nos demais tipos vegetacionais descritos na planície
costeira da Ilha do Mel.
Na
parte mais interior da EEIM, onde a alternância de cordões litoráneos não
é tão definida, ocorre uma floresta bem desenvolvida, com indivíduos
arbóreos de até 25m de altura, onde C.
brasiliense e T. cassinoides são os elementos dominantes, associados a P.
beaurepairei e várias espécies de Myrtaceae, sendo que desta última
muitos elementos constituem também o subosque florestal. Nestas florestas
ainda podem ser encontrados alguns indivíduos de palmito (Euterpe edulis
- ARECACEAE), provavelmente em densidade muito abaixo da que já ocorreram
na Ilha, em função do corte seletivo ao qual foram submetidos em épocas
passadas. Em termos de composição geral dos diferentes estratos
florestais, e também do estrato herbáceo e das comunidades de lianas e
epífitas, este tipo vegetacional assemelha-se muito às "florestas
paludosas", já descritas anteriormente.
Nas
proximidades das desembocaduras dos pequenos rios que cortam a EEIM,
ocorrem áreas pouco extensas de manguezais, mais desenvolvidos nas suas
respectivas porções oeste-norte. Predominam nestes locais as espécies
lenhosas comuns em todos os manguezais paranaenses, como Laguncularia
racemosa (COMBRETACEAE), Rhizophora mangle (RHIZOPHORACEAE) e Avicennia
schaueriana (VERBENACEAE), além de uma espécie de poácea (Spartina
alterniflora), que normalmente ocorre nas partes quase que permanentemente
submersas deste tipo vegetacional.
Associados
aos manguezais, ocorrem áreas transicionais destes para as formações
arbustivo-arbóreas da planície costeira, que podem tanto ser
representadas por espécies lenhosas de hábito arbustivo-arbóreo, como
Hibiscus tiliaceus (MALVACEAE), Annona glabra (ANNONACEAE), Erythrina
speciosa e Dalbergia ecastophylla (FABACEAE), e Ximenia americana (OLACACEAE),
além de outras de hábito herbáceo, notadamente da família Cyperaceae,
que em alguns locais chegam a constituir agrupamentos densos e de relativa
extensão, denominados comumente de "brejos herbáceos". Estes são
importantes refúgios e locais de alimentação da capivara, que na EEIM
ainda pode ser frequentemente encontrada. Uma espécies de Pteridófita
muito comum nestas áreas é Acrostichum danaefolium (Pteridaceae), com
folhas que atingem mais de 1.5m de comprimento, destacando-se em meio às
folhas finas das ciperáceas dominantes nestes locais.
Em
relação aos aspectos ecológicos que propiciam o desenvolvimento destas
diferentes formações vegetais, destacam-se os relacionados as características
do solo e da influência marinha.
O
solo arenoso, é influenciado pela altura do lençol freático, que
conforme a distância da superfície, proporcionará uma maior
disponibilidade de água e nutrientes as plantas, ou mesmo, o excesso,
dando origem as diversas fisionomias vegetais com seus respectivos graus
de desenvolvimento. Aliada a esta situação, também influenciam o estádio
sucessional das formações, principalmente nas áreas formadas mais
recententemente. Conforme a disponibilidade de água mais próxima do
ideal para o desenvolvimento das plantas neste sistema, as formações
vegetais irão apresentar maior ou menor produtividade em seu ciclo de
nutrientes, como conseqüência as florestas mais desenvolvidas apresentam
um ciclo com uma maior produção de matéria orgânica, aumentando a
atividade biológica no solo e em função da decomposição propiciando
uma maior disponibilidade de nutrientes as plantas.
BRITEZ
(1994) e BRITEZ et al (1994),
estudaram aspectos relativos a ciclagem de nutrientes em duas florestas da
EEIM, amostrando formações
representativas desta área. Estas ocorrem próximas uma da outra,
e foram denominadas de "restinga
baixa" e "restinga alta", correspondendo a formações com
o estrato arbóreo superior com
alturas variando entre 8-15
metros e 15-25 metros, respectivamente. Enquanto a primeira ocorre nas
partes mais elevadas dos cordões litorâneos em local mais seco, a
segunda vai aparecer nas depressões onde frequentemente há o afloramento
do lençol freático.
Os
solos nestas áreas apresentam baixa CTC com poucos sítios para retenção
de íons, alta potencialidade de lixiviação, fazendo com que a matéria
orgânica seja a principal responsável pela retenção de íons no solo.
Embora a fertilidade dos solos seja considerada bastante baixa a vegetação apresenta-se bem desenvolvida.
Os
solos das duas áreas estudadas, são
semelhantes a nível de fertilidade. Os valores de soma e saturação de
bases trocáveis são bastante próximos, ocorrendo também, a presença
de dois compartimentos distintos de nutrientes, um no horizonte A1 e outro
no horizonte B iluvial, divergindo na disponibilidade de nutrientes do
horizonte B iluvial, maior na restinga alta.
Os mecanismos de
conservação de
nutrientes em
Ecossistemas com solos oligotróficos (pobres em nutrientes), foram
detectados também na
vegetação da restinga da Ilha do Mel. Estes mecanismos
são: uma
rede de
raízes penetrando
na serapilheira superficial,
recuperando rapidamente
os nutrientes das folhas
caídas e da chuva
antes que ocorra
lixiviação; a presença de micorrizas auxiliando na absorção de
nutrientes; atividade biológica; caráter
perenifólio; capacidade de translocar nutrientes
antes da abcisão
foliar; acúmulo de nutrientes na
biomassa aérea; e eficiência elevada na utilização de
nutrientes pela vegetação.
Além
destes mecanismos, a
vegetação da
restinga apresenta um aporte
de nutrientes, provenientes do
oceano, onde através da água da chuva e
do material depositado
na copa
das árvores pela
salsugem (maresia), são prontamente
incorporados ao sistema, neste caso representando cerca de 40 % dos
nutrientes que chega ao solo da floresta.
O
processo de ciclagem de nutrientes é semelhante nas duas áreas,
evidenciado pelo comportamento bastante próximo no
que diz
respeito a
sazonalidade da deposição
de serapilheira,
indicando uma
reação similiar nestes
dois locais
frente as
condições climáticas. Da
mesma forma os teores de
nutrientes apresentaram
valores próximos
em todos
os compartimentos estudados.
A diferença entre
as áreas, está relacionada a
maior produtividade da restinga alta, o que se
reflete em uma deposição mais
elevada de folhedo e conseqüentemente
de quantidade de
nutrientes, maior acúmulo de nutrientes
no solo
através da
matéria orgânica e
maior acumulo de nutrientes na biomassa
e mineralomassa vegetal.
Devido
a formação recente da planície costeira
da área estudada
na ilha do Mel (menos de 5.000 anos), tanto a
restinga baixa quanto a alta, devem ter
sido formadas simultaneamente, somente
que num
processo sucessional diverso, onde a restinga alta
desenvolveu-se mais rapidamente devido a maior umidade do solo.
Portanto,
dentre os
fatores que
determinam a
produtividade do
ecossistema (energia,
água e
nutrientes), a
água influenciou
de maneira
significativa na maior produtividade da restinga
alta.
A
proximidade do lençol freático a superfície, propicia uma
maior disponibilidade
de água e
nutrientes na restinga
alta em contrapartida
a restinga
baixa e freqüentemente
influenciada pelo estresse hídrico entre os períodos de ocorrência de
precipitações.
Estes
aspectos evidenciam a fragilidade deste ecossistema, em caso de retirada
da sua cobertura vegetal, restaria apenas um solo arenoso, bastante infértil,
com pouca possibilidade de existir alguma atividade produtiva.
ASPECTOS RELACIONADOS A INTERAÇÃO FLORA/FAUNA
Nos
ecossistemas naturais a interação flora e fauna apresenta diversos
aspectos. A vegetação representa a principal fonte de alimento para a
fauna. Na EEIM mais de 60 % das espécies vegetais apresentam zoocoria, ou
seja, dispersão dos frutos por animais, desta forma estes servem de
alimento ao mesmo tempo que ocorre a dispersão das sementes. Inúmeros são
os exemplos de frutos consumidos pela avifauna como a Tapirira
guianensis, Myrcia multiflora, Clusia criuva, Ilex spp, Erythroxylum amplifolium, Schinus terebinthifolius e Psidium
cattleianum, destaca-se os frutos de Calophyllum
brasiliense que servem de alimento para o papagaio chauá.
Outro
aspecto refere-se as interações inseto/planta, no qual o primeiro se
beneficia alimentando-se da seiva, das folhas, do nectar e pólem, e o
segunda se beneficia com a polinização, na decomposição da
serapilheira e na absorção dos nutrientes. Por sua vez estes insetos
servem de alimento para diversos animais.
A
vegetação além de fonte de alimento como produtor primário,
sustentando toda a cadeia alimentar é o abrigo para toda fauna, tendo a
EEIM papel relevante por exemplo como refugio e abrigo do papagaio chauá.
A
interação flora/fauna apresenta-se bastante intricada onde interagem além
dos aspectos biológicos, aspectos climáticos e do meio abiótico. Estas
na sua maior parte são muito pouco conhecidas, mas sabe-se que modificações
de origem antrópica alteram completamente estas relações, comprometendo
a sobrevivência de uma série de espécies. Neste sentido, a existência
das unidades de conservação são importantíssimas para a manutenção
destas interações.
TODOS
OS DIREITOS RESERVADOS © 2000 BRITEZ-SILVA
ESTUDO
REALIZADO POR:
Ricardo
Miranda de Britez
Biólogo,
MSc., Doutor em Engenharia Florestal / SCA / UFPR,
Email:
rmbritez@netpar.com.br
Sandro Menezes
Silva
Biólogo,
Dr., Departamento de Botânica / SCB / UFPR,
Email:
menezes@garoupa.bio.ufpr.br
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